"A Senhorita X afirma que não tem mais cérebro nem nervos nem peito nem estômago nem tripas, somente lhe restam a pele e os ossos do corpo desorganizado [...]"

terça-feira, 24 de novembro de 2009

(se eu casasse com a filha da minha lavadeira/
talvez fosse feliz.
)






talvez. [?]

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

angelical.


na frança, de luís XIV, o santo padre, em sua santa capela, segura com a mão – extremidade do membro superior direito – um outro membro por baixo da batina enquanto observa os anjinhos barrocos em volta da capela.

ah! que sonho seria – para ele – enrabar aqueles belos anjinhos de nádegas róseas e olhares infantis.

num dia qualquer, decidiu atender o apelo que partia de dentro e, pensando libidinosamente, cavou um buraco entre as nádegas de uma figura angelical que se encontrava, provocantemente, de bundinha empinada, encheu-a de espuma macia, regou-a com água quente e realizou seu maior desejo enquanto pensava, sordidamente:

pau no cu dos anjos.

sábado, 14 de novembro de 2009

§ub[missão].




 eu aceito, de bom grado, dizer-me sua.
virei ao chamar-me de puta, cadela ou qualquer outro nome que venha à sua imaginação, pois estes sempre foram meus nomes.
ficarei feliz em responder sempre o que deseja ouvir.

- sim, senhor[@]; não, senhor[@].

rastejarei e implorarei conforme sua vontade.
serei fiel e servil como jamais pensou que alguém pudesse ser.

em troca, peço apenas, que me tome como carne, como corpo, como objeto.
que me faça gritar, chorar de dor. que encha de marcas de diversas cores minha pele. que trace palavras vermelhas no meu corpo.
que me cubra de amarelo e branco [cores dignas de uma escrava, de uma rainha].
peço apenas que queime, corte, fure, bata até que cada nervo se contraia e sinta a imposição da vida que se faz presente.

e aí então, serei sua e de sua vontade... enquanto houver sangue.

- scream, bitch, scream.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

anã.


de frente para o espelho lambuzou os lábios com o batom vermelho da mãe. de rosa-rouge pintou as maçãs do rosto. lápis preto nos olhos.

fez vestido de uma das blusas da mãe e calçou, desajeitadamente, os sapatos de salto-alto marrons.

olhou com desprezo as roupas de criança jogadas em cima da cama.


- não, elas não são mais para mim.


mirou sua própria imagem no espelho: parecia uma mulher que havia encolhido.


tinha pressa de crescer.

seu corpo já havia sido por diversas vezes exposto, tocado, lambuzado com algo mais viscoso que batom. então, por que não?


- não. não se faz assim com crianças, não é certo.


apertou contra o seio ainda reto a última lembrança da infância. depois, deixou-a sobre a cama, fechou a porta e se foi.


- uma vez fechada a porta é hora de partir, me vou desse mundo e [des]-habito um lugar para ocupar outro do qual ainda não me dei conta.


a infância é curta e a maturidade é eterna.”

- calvin.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

abismo.

é preciso estar sempre olhando para baixo;
para o fundo do abismo.

olhar o abismo e não sentir vertigem.

eis aí o desafio para os que temem grandes alturas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ausência,

chamam-me ausência.

minha especialidade é partir.

partir para longe e não mais voltar.

partir em pedaços.

assim sendo, parto.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

borboletas.


de que ela tinha medo, ninguém duvidava. vivia escondida pelos cantos das paredes, correndo em salas redondas, fugindo de um não-sei-o-que apavorante que lhe perseguia.


teimava em camuflar-se por de baixo das saias das senhoras que percorriam a praça. saias longas, escuras. tecidos onde podia se enfiar, amedrontada, como sempre.


mas um dia, sozinha, sem onde mais esconder-se, entrou no tronco oco de uma árvore.

por lá permaneceu enquanto longos dias pavorosos passavam.


um dia, para a surpresa da cidade, que já havia esquecido-se da menina amedrontada, uma borboleta de cores ocre apareceu voando em torno das saias das senhoras da praça, para depois, sumir no ar.