"A Senhorita X afirma que não tem mais cérebro nem nervos nem peito nem estômago nem tripas, somente lhe restam a pele e os ossos do corpo desorganizado [...]"

segunda-feira, 29 de março de 2010

de vez em quando penso que ele lê meus pensamentos.
muitas vezes penso que é loucura.
de vez em quando penso que realmente nascemos destinados à nos encontrarmos.
muitas vezes penso que isso é loucura.
[mas aos diabos com o que é loucura! de que vale ser são nesse mundo de baratas, com seus passeios de baratas. e a bem da verdade, há muito não me importo com o que é ou não verdade.]

e, entrego a muitos o que ganhei no dia em que as mães dizem que é certo que as "fases passam":

"'Riddle me this':
dois olhos maquiados, vindos de baixo
um olhar das alturas
intensa, sexy, marcada, alva
com carinho, a vejo de longe
com amor
pequena, espreita o meu sono
dentro de mim: costurando, costurando
a acordo violentamente
e te trago pra junto de mim
com amor
pra bem perto
pra sempre?
eu gostaria
gostaria
sim

te amo, meu bebê."

o mistério? é estarmos grudados.

domingo, 21 de março de 2010

uma flor: com amor


não sei nos apaixonamos por sermos loucos, ou, se sermos loucos foi o que criou a possibilidade de nos apaixonarmos.

e, no final, apenas penso [e não resisto]: rir das pequenas coisas e sentir o coração pular por uma flor que nem sequer foi ganha, sim, é pura loucura.

amo-te, §.

sábado, 20 de março de 2010

"...e um verme devorou o outro."

é isso? tudo se resume nisso: maldade?

sexta-feira, 19 de março de 2010

sossegue coração

       "sossegue coração
ainda não é agora
       a confusão
prossegue
sonhos a fora

       calma calma
logo mais a
gente goza
       perto do osso
a carne é mais gostosa."

[por paulo leminski]

p.s: obrigada, rodolfo, por me permitir ler esse poema.

terça-feira, 16 de março de 2010

el cuerpo


cabelos castanhos sempre despenteados, postos por sobre uma cabeça cheia de pensamentos nem sempre corretos, nem sempre belos, mas, livres, que fluem – fluxo que não pode ser interrompido – e pergunta-se o que poderia detê-lo.
boca que morde e beija com a mesma intensidade: insaciável. boca que acalma e faz eu me sentir a mulher mais linda do mundo, boca obscena, sem freios. boca que grita, que fere.
braços marcados – “defeitos de fábrica” – e cicatriz. minha cicatriz. minha forma de dizer: habitei seu corpo.
mãos macias que me acariciam e me tocam com desejo, que me esfregam e batem, me seguram e estrangulam. mãos que fazem eu me sentir menina. ás vezes, mãos de homem: que quebra, bagunça com meu coração, atira coisas pela janela e só me dá duas opções: desapegue-se ou faça algo que não possa ser arrancado.
peito que guarda um coração frankstein: feito de pedaços de várias ocasiões, costurado em alguns pedaços, sangrando em outros. coração amoroso que me quer bem. coração que completa.
pênis e ânus: onde ele está quando tudo vai bem. onde gosto de tocar – são ele, desejo e intensidade.
pernas e pés para fugir comigo e me levar para bem longe.

*

"...não quero apenas morar com você. meu desejo maior é morar em você."

domingo, 14 de março de 2010


a serpente solitária descobriu seu caminho: atirou-se pela janela.
quem dera eu ter essa coragem.

não há mais mar, nem anel, nem símbolos, nem possibilidade de cura. só corações partidos e coisas quebradas [tudo, tudo está quebrado.]

e quem disse primeiro “eu te amo”, deveria estar morta.
e está.

quarta-feira, 10 de março de 2010

fome, sede - vontade.


eu sinto uma fome intensa de engolir o mundo – numa só garfada.
sinto-me sedenta de beber mares e oceanos, rios e cachoeiras, sangue e álcool.

num impulso, não sei mais que sou: viro criatura amorfa sem pudores, sentimentos, respeito... nada mais importa além da vontade. esta, ah, esta reina soberana sobre meu ser [em cada ato, em cada palavra de sal, em cada lágrima doce – minha ou de outros].

vontade: que me trás desespero, angústia, pulsão, morte, vida, felicidade [quase sempre, tudo isso é clandestino], marca nos pulsos, no braço dele, em minhas pernas... nas pequenas feridas.

§

não consigo dar ordem ao meu caos - o caos cá dentro. creio que explodirei em milhões de estrelas.

 
meu amor, meu bem, sacie e mate, minha fome de vampiro se não eu piro [...] não me desampare, ou eu desespero!”
- zeca baleiro.

terça-feira, 9 de março de 2010

declaração


renunciamos: sem culpa, a nossas genitálias. não temos apenas uma ou duas, mas várias.
abdicamos: ao direito de sermos dois. somos um. metades separadas que se unem, mas, em cada metade há sempre mais de um - milhões!
dançamos: pois só o acaso é quem guia. sem planos. não, não somos desses.
cegamos: aqueles que nos olham. é preciso força no globo ocular [ou em outro lugar?] para encarar-nos de frente - demônios passeando são difíceis de se ver.

por fim, creio que apenas nos juntamos, nos infectamos - vírus, é isso que somos.
legiões.
e continuamos [sem saber bem porque - e haveria de ter um?], sem subtrair, apenas adicionando, multiplicando.

- so[a]mando. -

"anéis, o mar, cicatrizes e serpente[s]: nossos venenos."

quarta-feira, 3 de março de 2010

ode [d]à feiticeira



- como te atreves? - foi o que primeiro a feiticeira perguntou.

havia guardado, a sete chaves, nove cadeados, vinte portas de gelo maciço, dentro de si, lá onde as mãos não alcançam a caixa azul.
e de repente, ele aparece. ignora seus poderes, ignora o frio cortante que havia ao seu redor e crava em seu peito suas mãos alvas para tirar-lhe seu objeto mais perigoso.
não foi por querer, ela havia guardado a caixa por segurança: seu conteúdo não era para qualquer um.
mas ele queimou as mãos. e ele tinha as chaves. as chaves azuis. e abriu a caixa.

de um tudo que há nesse mundo, entre sentimentos e confusões, saiu de lá. a feiticeira sentiu raiva dele.
- quem era esse que tinha a coragem de re-mexer em seu interior?

a feiticeira sempre foi conhecida por sua frieza. deitava-se na cama de muitos e só gelo lhes dava. era azul. já fora de outra cor, mas, aos poucos, foi tornando-se azul e cinza. fantasma. intocável que atravessa paredes e brinca com sentimentos alheios. boca fria, olhos frios, pele fria – sintética.

mas uma vez aberta a caixa, nem mesmo ele conseguiu fechá-la novamente. e o mundo explodiu dentro dela como num novo big bang não-científico-dolorido-colorido-assustador[ido?].
de azul e cinza, voltou ao vermelho. lá em suas artérias o sangue fluía novamente. quente, grosso, com [pouco] gosto de ferro.

aquele homem tomou a feiticeira por abrir-lhe a caixa, mas machucou-se. era inevitável. a caixa continha não só um calor extremo, como monstros que ela ainda não havia aprendido a domar.
mas houve mais: nas mãos dele a caixa ganhou mais um objeto para [su]portar -uma felicidade sem tamanho da qual ela, no mesmo instante, teve medo de que não durasse.
e afastou-se. e foi embora. e sentiam falta um do outro, como duas metades separadas de um mesmo coração.

mas pólos que tendem à se unir não se separam, então, encontraram-se novamente, e novamente, tudo explodiu.
a feiticeira, acostumada a abrir caixas e portas, diante daquele homem ajoelhou-se: ele a havia exposto só para si, como uma brincadeira. mas expôs-se para ela. e sorriram: as duas metades estavam novamente juntas.

por quanto tempo agüentariam a explosão? nem mesmo as melhores feiticeiras saberiam dizer, mas eles estavam ensinando-se. amando-se.

então, a feiticeira riscou de seu caderno as palavras: culpa, medo, ciúmes, cristianismo, moral e tantas outras que sempre a atormentavam como se, a qualquer momentos, fosse afogar-se em uma sopa de letrinhas – mas estava reformulando algumas.

o medo do homem para quem estava exposta, passava aos poucos e ela sonhava em sua cama quente e sua nova cor: vermelha como fogo, paixão, cabelos, ódio e angústia.

§

onde forem seus pés, os meus o seguirão. tudo em que tua mão tocar, a minha também sentirá. suas dores serão minhas dores, sua felicidade é a minha. o que teus olhos enchergarem será visto pelos meus. e dançaremos, daremos gargalhadas e atearemos fogo: oroboros.

terça-feira, 2 de março de 2010

súbita mão de algum fantasma oculto entre as dobras da noite e do
meu sono
sacode-me e eu acordo, e no abandono
da noite, não enxergo gesto ou vulto.

mas um terror antigo, que insepulto
trago no coração, como de um trono
desce e se afirma meu senhor e dono
sem ordem, sem meneio e sem insulto.

e eu sinto a minha vida de repente
presa por uma corda de inconsciente
a qualquer mão noturna que me guia.

sinto que sou ninguém salvo uma sombra
de um vulto que não vejo e me assombra,
e em nada existo como a treva fria.


















- por fernando pessoa.