"A Senhorita X afirma que não tem mais cérebro nem nervos nem peito nem estômago nem tripas, somente lhe restam a pele e os ossos do corpo desorganizado [...]"

quarta-feira, 14 de julho de 2010


a placa dizia: "restaurante". pensou nos trocados no bolso e no que deixara em casa. não importava, por hora. subiu as escadas engorduradas, preparou o prato, sentou-se. pelos vidros embaçados mirou a rua. sentiu-se velha. tão velha quanto a morte. estava triste. ultimamente, perguntava-se com certa freqüência se estava contente ou apenas medicada. não gostava das medicações mas engolia as pílulas sem pensar muito. pensar poderia estragar o efeito daqueles 20mg de felicidade diários.
concentrou-se em comer: agarrar, mastigar, engolir. [como desejou seu canto! o canto onde sentia-se mais que segura e confortável. por quanto tempo ainda seria “seu”?] negou cada pedaço de esperança que vinha a mente. não queria ter esperança. sempre adiara tiros certeiros para agonizar na esperança de ser socorrida. mas nunca havia socorro.
rejeitou o restante da comida que ainda havia no prato. havia mergulhado tão fundo, num lugar tão escuro, que quando voltou as moscas já festejavam em volta das batatas gordurosas. levantou-se, pagou a conta, desceu as escadas ensebadas e pensou nos olhos que sempre a seguiam. não havia mais fuga.

é, o mais provável é que o mundo siga adiante.

Um comentário:

  1. Olá.. estou readicionando seu blog para seguir..
    meu antigo blog foi deletado pelo Google esta semana!!!

    Se desejar, és bem vinda!!

    bjs da lua.

    =]

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