no banheiro, sentada no chão, a moça olha a lâmina afiada com um prazer que quase supera a dor que esta sentindo.
o sentimento negro que há nela contrasta com o branco frio das paredes do banheiro. ela sempre teve medo do branco. e ele era o branco. devia ter se afastado antes que as salas brancas dos psiquiatras voltassem. e elas vão voltar.
- por que você fez isso? o que houve para que você cometesse tal atitude?
- sabia que a vida é um presente de deus?
- se é um presente, eu posso recusar.
a veia do pulso pulava. gritava. ela e a lâmina. lâmina prateada, diferente das que ele costumava usar. mais fina. menos sexual. não são marcas o que ela quer agora. mas o prazer de levar a lâmina ao pulso e sentir o sangue quente, vermelho, escorrer pela pele. ver o seu sangue.
é preciso começar devagar. sentir a pele ser cortada com delicadeza. observar o surgimento do pequeno filete de sangue com atenção. saboreá-lo. gosto de ferrugem. libertar o sangue preso nas veias aos poucos.
sangue vermelho que salpica o chão branco. vermelho quente que pinta o branco frio. vermelho como o sangue que um dia esteve no lençol branco. vermelho que fez a infância acabar. vermelho da culpa.
o corte vai ficando mais profundo. o sangue corre mais livre. não há beleza no corte. há bastante sangue no chão.
deitada no frio branco do banheiro, a mente da moça começa a divagar. em algum lugar há uma voz. e há o sangue. há o barulho da porta, e o sangue.
será que alguém quer entrar? porque alguém entraria aqui?
morrer é a única forma de ficar só. nos machucamos e sangramos desde que nascemos. a morte deve ser algo quente. e solitária. sem amores, sem dores. sem o vermelho sangue.
a porta abriu. alguém gritou. muitos barulhos. barulhos nas paredes brancas. panos brancos encharcados de vermelho. vermelho sangue
a sala branca. aventais brancos. jalecos brancos. apenas o branco, sem vermelho. o vermelho foi contido.
o lugar do sangue é dentro das veias, não fora delas.
- bem vinda novamente, moça, as salas brancas. espero que permaneça mais tempo conosco.
Boa tarde,
ResponderExcluirconhecendo teu canto.
Embora seja frio este texto, ele também aquece.....dificil explicar o que surgiu em minha mente, quando o li, rs, mais sei que gostei.
Linkei teu blo ao meu, e seguirei-o.
Beijos carinhosos,
ÍsisdoJun