"A Senhorita X afirma que não tem mais cérebro nem nervos nem peito nem estômago nem tripas, somente lhe restam a pele e os ossos do corpo desorganizado [...]"

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

a 4 mãos.




perdemos nossos nomes e nossas genitálias.
e se, por ventura, somos algo, então somos lésbicas, gays, travestis, macho e fêmea.
somos a gargalhada no gozo, o grito na areia, o esperma nos lábios, o mar sem trajes de banho – três perversões se esfregando ao mato da praia, poluindo, uma vez mais, os jardins de Camburi.

prazer pago... (qual era mesmo o nome dela?)

somos das ruas, das esquinas escuras, do amanhecer. somos remédios com tarjas escuras que curam as feridas que provocamos uns nos outros – engolimos esses remédios.

- só mais um comprimido: um prazer, alguns desejos (desculpe, desconhecemos o controle).

somos tigres com garras e dentes afiados mas que, ao se rasgarem, envergonham-se da sua própria brutalidade.
brutalidade para disfarçar nossa fragilidade, ou o quanto é fácil nos ferir.
beijos para secar as lágrimas de tesão, de amor, de dor.

DOR!

não somos nada e somos tudo, ou, antes, somos os de Fora.
somos trans. os três lados da rua: mão/contra-mão/acidente
um gozo encostado no muro, agachado no chão: duas bocas em um só pênis.

somos amarelos, vermelhos e brancos.
somos a felicidade e dor incompreensível porque é NOSSO.

*


Stória: há milhares de anos fomos separados por um raio, mas o céu não pode separar a Legião: os antigos demônios condenados a serem diabos errantes agora são, finalmente, Um.

*

...e usamos nossas asas para fugir por ruas e esquinas, bares e praias, mares e rios, becos e portas, linhas e relevos: somos novos bárbaros, transmutamos, invertemos, camuflamos, andamos nas sombras, fugindo sem razão aparente e sem saber exatamente do que; mas temendo, de um lado, o Capital-mago que nos acena-convida e, de outro, a terrível Divindade, com seus braços abertos e seus olhos atentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário