"A Senhorita X afirma que não tem mais cérebro nem nervos nem peito nem estômago nem tripas, somente lhe restam a pele e os ossos do corpo desorganizado [...]"

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

anã.


de frente para o espelho lambuzou os lábios com o batom vermelho da mãe. de rosa-rouge pintou as maçãs do rosto. lápis preto nos olhos.

fez vestido de uma das blusas da mãe e calçou, desajeitadamente, os sapatos de salto-alto marrons.

olhou com desprezo as roupas de criança jogadas em cima da cama.


- não, elas não são mais para mim.


mirou sua própria imagem no espelho: parecia uma mulher que havia encolhido.


tinha pressa de crescer.

seu corpo já havia sido por diversas vezes exposto, tocado, lambuzado com algo mais viscoso que batom. então, por que não?


- não. não se faz assim com crianças, não é certo.


apertou contra o seio ainda reto a última lembrança da infância. depois, deixou-a sobre a cama, fechou a porta e se foi.


- uma vez fechada a porta é hora de partir, me vou desse mundo e [des]-habito um lugar para ocupar outro do qual ainda não me dei conta.


a infância é curta e a maturidade é eterna.”

- calvin.

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