tenho em meu colo diversos pedaços de pano para costurar.
cada pedaço vem de uma época diferente, cada um com sua lembrança. nem bons, nem maus: apenas fragmentos do passado.
em dois deles há manchas de sangue: uma, de um sangue aidético, de um passado um pouco distante mas ainda fulgurante na memória; a outra vem de uma veia da qual o sangue saudável desejava escapar para sempre. correr e [es]-correr até contaminar tudo. ambas as manchas são memórias cheias de dores incontáveis. fraquezas e abandonos – não só.
lavo-as? não. elas ficam nos pedaços de tecido. são marcas do passado. nunca serão removidas, mas é preciso fazê-las encaixar-se com os outros pedaços de pano.
tecidos do passado.
estou costurando, um à um, os pedaços e os [trans]-formando numa colcha.
alguns pedaços são fáceis de encaixar: o medo, as dores, o frio, o veneno, a fraqueza, o gosto pela dor, as pulsões, os desejos, as marcas, os olhares preconceituosos dos quais rimos – será uma gargalhada sincera?
com a colcha nos cobriremos e [des]cobriremos: eu e você. nos aqueceremos um no outro e, quem sabe, não hajam mais medo e frio.
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